Uma das minhas séries favoritas, Curb Your Enthusiasm, chegou ao fim no último domingo. Se você me segue em alguma rede social, certamente viu algum post meu lamentando a despedida de Larry David e seus comparsas.
Foram 12 temporadas espalhadas em quase 1/4 de século, já que a série era produzida apenas quando Larry estava com vontade. Começou em 2000 e foi com certa regularidade até 2011. Houve, então, um longo hiato até 2017, depois outro até 2020, uma temporada pandêmica em 2021 e, agora em 2024, os 10 episódios finais.
Os fãs, como eu, torcem para que Larry mude de ideia e retorne em breve — isso já aconteceu antes. Ele, porém, garante que acabou mesmo.

Apesar do lançamento ter sido há 24 anos, eu ignorei Curb até por volta de 2018. Por motivos que comentarei a seguir, não me arrependo desse erro.
E eu jurava que tinha começado a ver na pandemia, mas, para minha surpresa, encontrei um tuíte meu indicando que foi dois anos antes. A Covid bagunçou minha noção temporal, inclusive dos tempos pandêmicos.
Curb Your Enthusiasm e Larry David: um breve resumo
Se você nunca viu Curb Your Enthusiasm, vou fazer um breve resumo.
Larry David faz uma versão exagerada de si mesmo. Ele é um comediante e criou, escreveu e ficou milionário com Seinfeld, série de humor que fez história na televisão americana nos anos 90. Isso tudo é real.
O que é exagerado é o jeito de ser do personagem Larry, que gera inúmeras situações embaraçosas e socialmente destrutivas para seus amigos, inimigos, relacionamentos e, claro, para ele mesmo. E para quem assiste também, dependendo do nível de tolerância ao constrangimento.
Cada episódio tem as situações gerais e o direcionamento pré-escritos, mas os diálogos são completamente improvisados. Com grandes atores de comédia no elenco, as histórias acabam tomando rumos hilários e surpreendentes.
Larry, o personagem, não tem freios para vocalizar o que pensa e sofre com uma quase total ausência de traquejo social. Seus planos para resolver problemas são geralmente equivocados e acabam gerando outros problemas, ainda piores, para si e os outros.

Nada muito grave, porém. Assim como em Seinfeld, em Curb as situações são banais e não trazem grandes consequências. Não há também uma moral da história ou qualquer tipo de redenção. Bandeiras não são erguidas. Pelo contrário: tudo é ridículo e ridicularizado.
Ambas são séries sobre nada, afinal.
Eu era muito fã de Seinfeld, já no fim dos anos 90. Mesmo adolescente, dava boas risadas com as desventuras também meio sacanas dos quatro personagens nova-iorquinos de meia-idade. Acompanhei fervorosamente o hype pelo famigerado último episódio da série, em 1998.
A idade adequada para apreciar Curb e Larry: ao menos mais de 30 anos
Seria natural, portanto, ter migrado para Curb Your Enthusiasm já em 2000, junto com Larry David, certo?
Totalmente certo, se olharmos hoje. Naquela época, porém, a HBO só existia em TV a cabo, e o pacote da Net que o meu pai assinava não tinha esse canal. Talvez tivesse um box em VHS, mas eu nunca procurei.
E outra coisa: naquela época, eu provavelmente não ligava para quem era o roteirista das séries que eu gostava. Zero chance de eu saber quem era Larry David.

Mas que bom que foi assim. A minha versão de 18 anos certamente não teria sabedoria para apreciar Larry David e Curb Your Enthusiasm. Eu era um idiota, mas não de uma forma boa.
Por outro lado, ali por volta dos 30 eu já era um idiota mais qualificado, e poderia ter curtido bastante a série. Mas aí eu já não tinha TV a cabo e acho que nem existia streaming — para completar, eu não pirateava obras audiovisuais, mais por preguiça e HD pequeno que por filosofia pessoal.
Os famosos “enta”
Ter virado fã nesses últimos 5 ou 6 anos da minha vida foi perfeito. Foi o período conduzindo aos “enta”, quando você praticamente já não se importa com que os outros pensam de você. Só liga para quem (te) ama.
Você começa a tomar consciência mais clara da própria mortalidade e da falta de sentido da existência, e assim começa a se impor menos restrições comportamentais. Também passa a ter bem menos paciência com coisas com as quais não concorda. Esses últimos dois pontos, aliás, entram em constante conflito em situações sociais.
Reclamar vira um esporte, o que é bom, já que alguns esportes físicos precisam ser abandonados. Pequenas tramas ridículas e rocambolescas passam a fazer parte da rotina.
Larry David, o personagem, fazia tudo isso sob as ordens de Larry David, o criador da série. E sempre rindo e fazendo a gente rir de forma largada (ou constrangida, dependendo de quem assiste).
Daqui a 10 anos terei a idade dele quando Curb foi ao pela primeira vez. A rabugice que tem hoje, aos 76, dizem que eu já tenho há muito tempo.
Espero que o bom humor também me acompanhe. Obrigado, Larry David, e sobe os créditos finais com a musiquinha que a gente tanto ama!
– Leia também:
Deixe um comentário