Quatro cantinas italianas em São Paulo que me deixaram muito feliz

Alguns dos meus grandes momentos em São Paulo, nesses três anos e meio, foram vividos em cantinas italianas. Vivi muitas horas memoráveis degustando massas caseiras, com algum tipo de molho envolvendo tomates e parmesão ralado, tudo em quantidades excessivas.

Se é que é possível classificar como excesso quando se trata de qualquer um desses três itens.

Escrevo estas linhas poucos dias depois de conhecer mais um restaurante italiano daqueles bem ortodoxos. Essa visita me motivou a contar um pouco sobre quatro casas paulistanas que me deixaram muito feliz.

Antes de partir para a listinha, vale ressaltar que a cidade de São Paulo é um paraíso para os entusiastas da culinária italiana. Tanto glutões quanto comedores sociais encontram opções para saciar o apetite, seja de que tamanho ele for.

Neste post, falarei sobre alguns mais clássicos, fartos e com pequenas piscinas de molho nos pratos. Isso não quer dizer que aqueles mais modernos não me agradem. Alguns exemplos desse último tipo que me fazem salivar: Modern Mamma, Locale Trattoria, Piccini, Luce, Nino Cucina, Bicchieri, Due Cuochi, Il Carpaccio e La Nonna di Lucca. Tem ainda os mais refinados Più, Nelita e Ristorantino, para ocasiões especiais.

Eu gosto até do Pecorino, que tem pratos de massa com piscinas de molho, mas que não entra na categoria de cantina por ter várias unidades. Então, o que é uma cantina?

Os meus critérios para uma boa cantina italiana

Eu amo restaurantes italianos, certamente é a minha culinária preferida. Inclusive leiam o post “O livro ‘As Mentiras da Nonna’ e as broncas que tomei de garçons italianos”, o segundo mais acessado da história deste blog, para mais informações sobre o tema.

Assim, tenho meus próprios critérios para definir o que chamo de cantina, embora entenda que talvez eles também seriam apropriados para trattorias. Tem que ter:

  • Molhos em grande volume. Um bom critério é se sobra o suficiente no final para raspar o prato com pão no final, a famosa “fare la scarpetta”. 
  • Oferecer massa caseira. Ao menos o fettuccine, sendo que o nhoque obviamente é obrigação, pois se eu quiser grano duro faço Barilla em casa.
  • Ter uma lasanha de respeito. Para isso vale checar o Instagram da casa antes, embora os melhores perfis tenham apenas fotos do dono com amigos.
  • Ao menos um garçom é careca. Cantinas que mantêm garçons por muito tempo indicam um ambiente de trabalho agradável e alegre, por isso a média de idade dos operários do salão idealmente gira em torno dos 50 anos.
  • Couvert clássico e barato. Um pãozinho italiano com sardella, caponata e aquelas manteigas em formato de bolinha me emocionam demais.

Outros fatores agregam muito, como ter um parmegiana gostoso (e cheio de molho, claro), tocar música italiana brega e disponibilizar um vinho da casa barato em jarra, mas não são obrigatórios.

Quatro cantinas italianas em São Paulo de onde eu saí muito feliz

Antes de apresentar minha humilde listinha, trago um pedido de desculpas: nunca fui à Mooca. Portanto, não tenho indicações naquele que é conhecido como o bairro mais italiano de São Paulo.

Mas, para garantir que os nonnos paulistanos não se revirem no túmulo, tem um do Bixiga. Vou começar a lista pela que visitei mais recentemente, aqui mesmo em Pinheiros.

Nello’s Cantina

Fundado em 1974, o Nello’s é tocado por uma família ligada ao teatro e à arte. A decoração traduz um pouco isso, com fotos e cartazes do cinema italiano. A casa fica a pouco mais de 10 minutos a pé do meu prédio, e ainda mais próxima de um coworking onde eu trabalhei nos primeiros anos de São Paulo. Mesmo assim, minha primeira visita foi nesta semana.

Decidido a recuperar o tempo perdido, pedi o carro chefe do almoço: polpettone parmegiana com fettuccine caseiro ao sugo. O molho da massa você pode escolher, mas o de tomates me pareceu a melhor opção para combinar com o clássico almondegão.

E, claro, tinha muito molho! Dê uma olhada nesta belezura de prato:

polpettone parmegiana com fettuccine caseiro ao sugo do Nello's Cantina em São Paulo

Logo após trazer o prato, o garçom — que era careca — trouxe uma generosa porção de parmesão ralado. E ralado bem fininho, de um jeito que ao entrar em contato com a massa ele volta a fazer pequenas bolas de queijo, complementando o sabor.

Pedi a porção individual do menu executivo, mas daria tranquilamente para dividir entre comensais civilizados. Os pratos têm também versão para duas pessoas.

Nello’s Cantina – Rua Antônio Bicudo, 101, Pinheiros, São Paulo (SP) – Abre para almoço e jantar de terça-feira a domingo – Site oficialPerfil no Instagram

Lazzarella

A Lazzarella é um pouco mais velha que o Nello’s, tendo aberto as portas no Bixiga em 1970. Fomos lá por indicação (e com a companhia) da amiga Renata Cechinel, que tem um Instagram incrível de arte e moda.

O carro-chefe da casa é a lasanha e, meus amigos, trata-se de uma verdadeira Ferrari. E daquelas do Schumacher, não as de hoje em dia. Experimentei as duas receitas que levam carne moída no recheio e mussarela gratinada por cima: uma com molho ao sugo e outra com molho branco.

As duas são espetaculares. Eu pedi a versão com molho de tomates — note que tenho um certo padrão. Dei conta sozinho e de praticamente metade da pedida pela minha senhora, que levava molho branco e o nome do restaurante. Gastronomia também é estratégia.

Veja que belezas de lasanha e de sorriso no meu rosto:

lasanha bolonhesa lazzarella

De entrada, a mesa — que totalizava seis pessoas, um número bom para um almoço tipicamente carcamano — devorou fatias de pão italiano com precisamente aqueles acompanhamentos exigidos nos meus critérios para uma cantina. Eu nem queria, mas comi.

Como se não bastasse toda essa felicidade culinária, havia ainda um tecladista cantando músicas italianas antigas. Cada mesa recebe um pandeiro para acompanhar.

O lugar é concorridíssimo aos fins de semana, então vale chegar cedo. Na saída, dê uma esticada na mesma rua até a Cannoleria do Bixiga para degustar a clássica sobremesa italiana: o cannolo.

Sim, porque cannoli é o plural de cannolo, assim como panini é de panino. Prego.

Lazzarella – Rua Treze de Maio, 589 – Bela Vista, São Paulo (SP) – Abre para almoço e jantar de terça-feira a sábado e apenas para almoço no domingo – Perfil no Instagram

Patteo Cucina

No meu primeiro passeio pelo Triângulo Histórico do Centro de São Paulo, fui com a mente aberta para o almoço. Ao passar pela antiga casa da Marquesa de Santos, uma simpática senhora me convidou a conhecer o cardápio do Patteo Cucina, logo ao lado.

O restaurante abriu em 1983 — portanto é mais jovem que eu — e leva esse nome por ficar a poucos passos do Pateo do Collegio. Trata-se do exato local onde o Padre Anchieta se abancou com outros jesuítas em 1554 e estabeleceu o que hoje é considerado o marco zero da cidade.

Em tempo: se você leu esses dois parágrafos e não ficou com vontade de conhecer o Centro de São Paulo, reflita sobre sua falta de curiosidade histórica sobre o seu país.

Aliás, já leu meu post sobre Ouro Preto? Não? Então leia e depois reflita mais um pouco.

Mas enfim, sobre o restaurante. Ele cumpre todos os requisitos com louvor, como você pode ver nas fotos abaixo. Considero que a manteiguinha de hotel é uma alternativa válida às tradicionais bolinhas. E olha o molho bolonhesa com muito tomate aí de novo!

massa e pão patteo cucina

Muito bem servido, muito saboroso e com muito molho, como queriam Deus e os nossos antepassados imigrantes que, de fato, inventaram a cozinha italiana.

E gosto de pensar que Domitila e Dom Pedro I deram uns pegas por ali, escapando de algum baile enfadonho na famosa Casa Amarela, como ficou conhecido o solar vizinho. Que aliás é um museu hoje. Sério, vá visitar o Centro Histórico de São Paulo, é muito massa.

Patteo Cucina – Rua Roberto Simonsen, 122 – Centro Histórico, São Paulo (SP) – Abre todos os dias do horário do almoço até o jantar – Perfil no Instagram

Cantina Gigio

A primeira comida italiana que pedimos em casa em São Paulo foi da Cantina Gigio. Eu e minha senhora ficamos abismados com a quantidade, que propiciou tanto um almoço quanto um jantar de domingo fartíssimos.

Fiquei meses querendo visitar o restaurante presencialmente, até que consegui quando um amigo visitou a cidade. Éramos dois gaúchos glutões, o que poderia dar errado?

Tecnicamente nada, é claro. Começamos com o couvert da casa, cobrado por pessoa, que tinha um PÃO INTEIRO acompanhado de manteiga, sardella, caponata e alicella. Poderíamos perfeitamente ter comido apenas o pão, pois, como duas bestas enjauladas sedentas por carboidratos, não deixamos sobrar nenhuma fatia.

Porém, a noite era uma criança e, depois de uma garrafa cada um de Coca-Cola para enxugar o estômago, decidimos jantar de verdade.

Pedimos uma indicação a um garçom, que não me lembro se era careca. Ele sugeriu um que não tinha massa caseira, mas era promissor e com muita saída entre os clientes: um penne alla vodka. O molho levava manteiga, cebola, bacon, molho napolitano, creme de leite e pimenta vermelha. Sério, muito promissor.

Não tirei foto naquele dia, então roubei do Instagram da Gigio:

Talvez tenhamos pensado que, por levar álcool, a massa seria mais leve ou traria leveza às nossas cabeças. Aí chegou uma verdadeira bacia de comida à nossa mesa. Sem exageros: mesmo estufados do pão, cada um de nós dois mandou pra dentro dois pratos de massa, e ainda sobrou para eu levar para casa e almoçar no dia seguinte.

Confesso que não lembro de mais nada naquela noite, apenas de acordar empolgado para almoçar no dia seguinte. Deve ser algum tipo de amnésia etílica, porém com comida.

Recentemente, a Cantina Gigio teve a ótima ideia de lançar uma versão no iFood chamada Gigio Uno, com pratos supostamente para uma pessoa. E o que é melhor: com preços mais camaradas, as porções dão perfeitamente para duas pessoas civilizadas.

Talvez eu nem consiga mais ser glutão como fui naquela visita memorável, então tudo bem.

Cantina Gigio – Rua dos Pinheiros, 355 – Pinheiros, São Paulo (SP) – Abre todos os dias do horário do almoço até o jatar – Site oficial – Perfil no Instagram

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Comentários

8 respostas para “Quatro cantinas italianas em São Paulo que me deixaram muito feliz”

  1. Avatar de Bat
    Bat

    Como personagem amigo gaúcho reitero a veracidade dos fatos. Penne à la Vodka dá mesmo ressaca.

    1. Avatar de Bruno Volpato

      Obrigado por reforçar a credibilidade jornalística deste blog!

  2. Avatar de Patricia Nicolazzi Volpato
    Patricia Nicolazzi Volpato

    Excelente texto Bruno !
    Minha primeira leitura hoje ao acordar .
    Deu vontade de procurar um italiano por aqui e comer uma bela massa com molho de tomate! Beijos

  3. Avatar de Rafael Gustavo Falk
    Rafael Gustavo Falk

    Tsc tsc tsc nunca foi na Mooca… tem muita coisa lá e pode terminar um dia de visita assistindo uma pela do Juventus (da Mooca) na famosa Rua Javari…

    1. Avatar de Bruno Volpato

      Vou combinar com o Bello! 😂

  4. Avatar de Claudia Volpato Andrade
    Claudia Volpato Andrade

    Passei mal de rir lendo o episódio da Cantina Gigio!
    E claro, fiquei com vontade de almoçar massa em uma cantina, programa de paulista, mas que cabe perfeitamente em um domingo nublado no Rio, como hoje😊

  5. Avatar de Rachel Nicolazzi Carvalho
    Rachel Nicolazzi Carvalho

    Adorei o texto, Bruno! Na descrição dos pratos gostei das “pequenas piscinas de molho”; nunca tinha lido ou ouvido ! Coerente para cozinha italiana mesmo.
    Vou contar para meu genro que é expert em massas e molhos! Forte abraço da tua fã Rac!!

    1. Avatar de Bruno Volpato

      Eu aprendi a comer comida italiana assim, com as massas afogadas em molhos! 🙂 Agora eu dou uma variada, à vezes uma coisa mais gourmetizada também é bom hehehe.

      Obrigado pelo comentário, Dona Rac!

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