A série documental Um Beijo do Gordo faz mais chorar do que rir, apesar de ter como tema um dos maiores humoristas da história do Brasil: Jô Soares. A pista sobre isso já estava no título, que é o bordão com que ele encerrava seus programas na Globo e no SBT, e também seus espetáculos.
O documentário, produzido sob supervisão do jornalista Pedro Bial e disponível no Globoplay, é uma celebração das despedidas de Jô Soares. Seus encerramentos de ciclos, sejam artísticos, amorosos ou mesmo da vida, ganham destaque na narrativa.
A vida é marcada por fins, então achei uma boa e bonita escolha dos produtores da série. Um Beijo do Gordo é emocionante.

O documentário do Jô não se baseou na autobiografia do Jô
O melhor documento sobre a vida de Jô Soares foi escrita por ele mesmo. Sua autobiografia, escrita em dois volumes, é uma delícia de ler. Eu ouvia a voz do autor na minha cabeça ao lê-la.
A riqueza de detalhes sobre sua juventude, espetáculos e passagens é bem impressionante. E tem muitos trechos engraçados e fotos históricas.
A primeira parte, que conta a sua vida de 1938 a 1969, portanto antes da explosão na TV, está saindo por apenas 31 reais com 70% de desconto na Amazon, fica a dica:
- O livro de Jô – Volume 1: Uma autobiografia desautorizada
- O livro de Jô – Volume 2: Uma autobiografia desautorizada
A série documental, porém, não entra em maiores detalhes sobre a ascensão de Jô Soares como showman e ator de teatro. É compreensível, dada a popularidade de sua carreira nas telinhas.
Só que também não traz muitas novidades ou bastidores dos programas da Globo ou do Jô Soares 11 e Meia, no SBT. E nem dos seus livros, como “O Xangô de Baker Street”.
Não é uma crítica, pois achei que Um Beijo do Gordo mandou muito bem em foca na figura humana do humorista, tanto com entrevista de arquivo do próprio quanto de novos depoimentos dados após a sua morte por pessoas que o amavam e que foram importantes em sua vida.
Cláudia Raia, por exemplo, fala em profundidade sobre o polêmico namoro dos dois nos anos 80. Humoristas de gerações seguintes revelam a importância de Jô para suas carreiras e vidas. Pessoas da equipe de produção dos programas de entrevistas falam sobre ele no presente, ressaltando sua eternidade.
As despedidas artísticas do gênio Jô Soares
A personagem mais marcante da série é Flavinha, sua terceira esposa e, de acordo com o próprio, grande amor de sua vida. Ela estava presente em vida quando Jô largou o programa Viva o Gordo na Globo para realizar o sonho de ter um talk show brasileiro no SBT.
Ela também estava ao seu lado quando decidiu voltar à Globo. A série mostra a gratidão do humorista por Sílvio Santos e, também, a relação com Boni nessas trocas.
Flavinha, então ex-mulher mas seu eterno amor e amiga, também conta em detalhes a despedida de Jô Soares da Globo e da televisão com um todo. A saúde já não era a mesma e ele não tinha mais pique para um programa diário, embora tenha trabalhado muito debilitado na reta final.
Um dos momentos mais bonitos de Um Beijo do Gordo é a despedida de seu filho. Jô foi gravar o programa que estava agendado mesmo com a morte do Rafinha, como uma homenagem. Ele era autista e apaixonado por rádio, trabalhando todos os dias sem falta em uma estação que tinha o alcance da sala de casa. E nunca faltava, portanto o humorista considerou que também não poderia faltar ao trabalho, mesmo com toda a dor que estava sentindo.
É lindíssima também a última entrevista com o cantor Roberto Carlos. Jô pede e o Rei canta “Amigo” ao seu lado, no sofá. O documentário mostra o apresentador avisando que iria chorar, mas, mesmo assim, nada te prepara para a cena de ambos chorando de soluçar.
E Robertão não erra uma nota!
A despedida final
Essa cena encerra o terceiro episódio e serve com prelúdio para o quarto, que narra os últimos anos da vida de Jô Soares, fora dos holofotes — mas ainda ativo no texto e no teatro. Relatos íntimos de funcionários que estiveram ao seu lado por décadas e amigos vão preparando o terreno para a despedida final.
Jô era uma daquelas pessoas “maiores que a vida” e eu até hoje estranho a sua ausência. Flavinha, muito emocionada, conta como foi a passagem do humorista, seus pedidos finais e os últimos gracejos.
É muito tocante a leveza com que o assunto é abordado, apesar da tristeza. Jô não quis prolongar sua agonia e, de acordo com Flavinha, disse que teve uma vida muito feliz e que fez tudo o que quis. Era isso que importava.
Jô Soares deixou a vida com brilho e inteligência, da mesma forma que a viveu. Assistam à série, é belíssima.
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