Antes de continuar a leitura deste post, peço gentilmente que você clique no vídeo abaixo. Mais do que as imagens, quero mesmo é que você ouça a música.
Se você não se arrepia até hoje ao ouvir OOOOEEEEAAAA é porque não viveu intensamente a Copa do Mundo do Brasil, que aconteceu há incríveis 10 anos.
Ok, o 7 a 1 que levamos da Alemanha na semifinal é um trauma nacional e muita gente prefere esquecer que a Copa existiu por causa dele, mas a loucura daqueles dias com gente de todo o planeta nas nossas ruas é o que deveria ficar na memória.
“Ah, Volps, que legal, em quais jogos você foi?” Nenhum, mas não é esse o ponto. “Então você foi ver jogos em alguma cidade com fan fest, né?” Não, mas isso também não importa, pare de fazer perguntas.
Aquela Copa do Mundo foi um estado de espírito que durou 30 dias.
Como eu cobri a Copa do Mundo diretamente de Florianópolis
Cobrir uma Copa do Mundo era um dos meus sonhos de carreira no jornalismo. Era uma certeza que eu tinha desde que fui à de 2006, na Alemanha. “Quais jogos você viu lá, Volps?” Sério, pare de fazer perguntas — mas ao menos fui nas fan fests de Munique e Berlim.
Bom, tecnicamente ainda pode acontecer, mas convenhamos que vai ser difícil. Então, 2014 foi provavelmente a minha maior chance. Porém, eu trabalhava como editor online do ND, um jornal local de Santa Catarina que, por motivos óbvios, não enviou repórteres para as cidades-sede.
Por outro lado, o ND convocou o Tomás Petersen, que também trabalhava no jornal, e eu para assinarmos uma coluna diária do Laranjas durante todo o mês da Copa do Mundo.
Falar de Copa com humor não era exatamente a realização do sonho, mas foi bem legal e extremamente divertido. E ainda foi um baita desafio, já que a gente tinha que fazer uma pauta diária e entregar até às 6 da tarde para o texto sair no jornal impresso dia seguinte.
Até hoje sou grato à paciência do editor de Esportes da época, o Diogo Maçaneiro. Rolaram uns atrasinhos básicos, claro, mas a coluna chegou todo dia. E a gente nem ganhava nada a mais para escrevê-la, veja você.
Se você quiser pular direto para a maravilhosa cobertura que fizemos, é só clicar neste link. Ela está só no site do Laranjas, do fim para o começo da Copa, porque o ND tirou tudo do ar depois de alguns anos. A coluna semanal que escrevemos por um ano depois da Copa se perdeu completamente, já que era paga e publicada apenas no site do jornal. A quem interessa calar os Laranjas?
Brinks, pessoal, faz parte da vida do jornalismo digital!
Uma janela para tempos muito loucos
Reler a nossa cobertura, 10 anos depois, faz com a gente relembre aqueles tempos muito loucos. O Brasil vivia uma forte crise política, iniciada em 1500, mas que havia chegado ao auge com os protestos de 2013 (“não vai ter Copa”, quem lembra?), gerando várias piadas para o Laranjas. Exemplos:
- Confira os melhores lances do protesto de estreia da Copa do Mundo
- Van Persie, Van Gaal e Van Robben são presos por Van Dalismo
- Jornalista dinamarquês se arrepende e quer voltar para a Copa
- Atirador pediu aval para abater Luis Suárez antes de mordida
- Após vexame na Copa, Ministério do Esporte cria a Futebras
A verdade é que não falávamos quase nada de futebol. Contudo, expressamos nossa revolta com o futebol horrível da seleção sugerindo que Bruna Marquezine, então namorada do Neymar, deveria substituir Carlos Alberto Parreira na comissão técnica.
Eu lembro, ainda, de ter escrito um texto louvando David Luiz pela vitória contra a Colômbia nas quartas. Por algum motivo, esse texto se perdeu. Acho que eu apaguei de vergonha após a atuação do zagueiro contra a Alemanha.
Cobrimos ainda a lesão que tirou Neymar da Copa e a mordida que tirou Luis Suárez da Copa. Fizemos uma versão gaúcha do inglês que estava usando a mesma fantasia há três dias e já nem sabia mais o que estava bebendo.
E os legados da Copa? Estão lá também.
Os dois grandes momentos da cobertura
Nós nos divertíamos bastante escrevendo os posts, mas rimos mais ainda em dois momentos da gloriosa cobertura do Laranjas na Copa do Mundo.
A primeira foi ainda antes de a bola rolar. Aproveitando o gancho da impopularidade da presidente Dilma Rousseff, publicamos que o discurso de abertura da Copa seria feito pelo então governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo, o fofo.
A graça veio horas depois. A diretora de imprensa do Governo do Estado, que por sinal havia sido minha chefe, me avisou que havia recebido uma ligação da pauteira de uma televisão querendo entrevistar Colombo sobre o assunto.
O detalhe é que o texto tinha o seguinte trecho:
“Ele é um fofo”, explicou Valcke. O dirigente da Fifa acredita que, quando surgirem no telão o sorriso carinhoso e os cabelos levemente bagunçados de um guerreiro cansado, qualquer torcedor propenso a hostilizar políticos ficará enternecido e sentirá paz no coração, sentindo um incontrolável desejo de abraçar Colombo. “E o que são aquelas bochechas? Como vocês conseguem falar com o Raimundo e não apertar aquelas bochechas?”, concluiu o secretário-geral, que afirmou ainda que não encontrou o governador pessoalmente. “Infelizmente”, suspirou.
Como eu disse, a Copa foi um estado de espírito. Tava todo mundo doido.
E o Messi em Canasvieiras?
O grande momento mesmo, porém, veio antes da final. Publicamos uma “reportagem” em que Messi relembrava seus verões em Canasvieiras, refúgio de argentinos em Florianópolis (e terra do laranja Tomás), e prometia voltar lá depois da Copa, qualquer que fosse o resultado, para descansar.
O texto é um dos melhores da história do nosso site. O trecho a seguir é épico, romântico e cheio de camadas:
Além de parentes, Messi também deixou corações despedaçados em Canasvieiras, onde não volta desde 2005, quando tinha 17 anos e foi de excursão com os colegas do ensino médio. Durante uma festa que virou a madrugada ao som de cúmbia e axé, Lionel teria conquistado muitas garotas, uma em especial. Maria Lúcia Fonseca, hoje com 29 anos, revela que proporcionou a primeira noite de amor do craque. “Ele era muito tímido, mas depois de seis caipirinhas grátis, ele se soltou um pouco. Dançamos, nos beijamos e depois… Não vou entrar em detalhes, mas ele batia um bolão”, contou a moça, hoje mãe da pequena Ana Lúcia, de 8 anos.
E não é que a falecida revista Época acreditou que era verdade? Tá aí a foto da seção de frases da semana para comprovar:
Claramente o Laranjas foi vítima de sua própria credibilidade, embora você possa notar na foto que a revista não creditou nem a gente nem o ND.
E não creditou também na errata na semana seguinte, publicada após o caso ter sido repercutido no Portal Imprensa.
Enfim, foi muito divertido. Teve Copa pra c******! OOOOEEEEAAAA!
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