A Netflix transmitiu ao vivo, no dia 5 de maio, The Roast of Tom Brady. Estou escrevendo sobre o programa quase um mês depois, porque, bem, eu não vi ao vivo e, também, porque este blog não tem compromisso com a agilidade nem com algoritmos.
Durante três horas, comediantes, ex-jogadores, celebridades e amigos zoaram, xingaram e ridicularizaram Tom Brady, o maior jogador de futebol americano de todos os tempos.
E ele estava vendo tudo no mesmo palco e, também, foi quem pediu para que o evento acontecesse. Talvez tenha se arrependido.
Se você não sabe quem é Brady, tudo bem, somos brasileiros e sabemos que futebol de verdade é o nosso. Mas talvez você lembre dele como Giselo.
Sim, é esse cara abaixo, o ex-marido da Gisele Bündchen.

O que é um roast
Tom Brady sabia onde estava se metendo. O roast é um formato de humor popular nos Estados Unidos há muitas décadas. Ele tem um convidado de honra, que é escrachado e insultado por outros convidados, sempre com muita elegância e sofisticação.
Há um roast master, que conduz os trabalhos e vai chamando os convidados ao palco. Eles, por sua vez, atacam a estrela da noite e, também, os outros convidados. Em geral, não há tema proibido para piadas.
Ao final, o caçado vira caçador e se vinga de todos que o detonaram antes, também fazendo muitas piadas. A coisa só funciona porque envolve comediantes profissionais e celebridades.
Ou seja, todo mundo é rico, famoso e pode aguentar umas porradas. E é tudo roteirizado, escrito por humoristas de primeira linha.
Além disso, realmente tem muita elegância envolvida. Os roasts começaram no Friars Club, em Nova York, nos anos 50, e atingiram seu auge nos anos 70, com programas de TV comandados por Dean Martin. Todo mundo de smoking, tomando uísque 12 anos e fumando seu cigarrinho.
O maior expoente dessa arte é Don Rickles, especializado em comédia de insulto, mas que talvez você conheça pelo filme Cassino (abaixo).

Grande amigo de Frank Sinatra e de sua turma da pesada, Don Rickles escrachou todo mundo no show business desde os anos 50. Mesmo assim, era tão engraçado que foi um dos comediantes mais queridos pelas celebridades.
Sempre foi uma enorme honra sofrer um roast de Don Rickles, que morreu em 2017 aos 90 anos. Antes de nos deixar, aliás, Don se submeteu a um roast de despedida, onde foi insultado com piadas de Jerry Seinfeld, Tina Fey, Martin Scorsese, Robert De Niro e Amy Poehler, entre outros.
Abaixo, confira Tina e Amy homenageando Don Rickles, em uma performance que certamente orgulhou o mestre:
Hoje em dia, o canal que leva a tradição adiante é o Comedy Central. Lá, Justin Bieber, Bruce Willis, Charlie Sheen, Joan Rivers, Alec Baldwin, Pamela Anderson e até Donald Trump, antes de ser presidente, foram devidamente insultados.
E como foi o roast do Tom Brady?
A Netflix anunciou o especial como “The Greatest Roast of All Time”, uma referência a Tom Brady ser considerado o GOAT (Greatest Of All Time, ou Maior de Todos os Tempos em português) do futebol americano.
Algumas pessoas inclusive o consideram o GOAT dos esportes como um todo. Apenas pessoas americanas, naturalmente.
De qualquer forma, foi tudo grandioso. O LA Forum, ginásio histórico dos Lakers de Magic Johnson, recebeu 10 mil pessoas. Além da turma que comprou ingresso, muitas celebridades estavam nas mesas em frente ao palco.
Tudo muito elegante. Menos as piadas, claro. Nunca tanta gente viu um homem tão “great” ser chamado de corno ao vivo como Tom Brady foi.
A suposta traição de Gisele Bündchen com seu professor de jiu-jitsu foi largamente explorada pelos comediantes. Mas bota largamente nisso. Parece até que a supermodelo brasileira não gostou e reclamou com o ex.
Minha percepção é de que as piadas eram com ele ter sido corno, deixando-a por cima da situação. Além disso, outros humoristas avacalharam duramente Brady por ter terminado seu casamento para cancelar sua aposentadoria, na linha de “você perdeu sua família e a modelo mais linda do mundo para jogar mais uma temporada, seu idiota”. Claro que dito de forma mais baixa.
Enfim, piadas são recebidas de diferentes formas por diferentes pessoas.

Infelizmente os países de língua inglesa não fazem conexão entre ser traído e ter chifres. Dessa forma, uma excelente piada envolvendo “goat”, que em português é o simpático bichinho bode, não pôde ser aproveitada. 🐐
Quem mandou melhor no roast
Desde a geração Comedy Central, os roasts começaram a carregar nas piadas sexuais, vulgares e com todo tipo de incorreção política. Quem está lá, seja para atacar, ser atacado ou só ver, está consciente disso, então tudo bem. Já quem assiste sem ter ideia do formato, pode se chocar ou até se revoltar.
Foi um risco que a Netflix correu, e eu particularmente aplaudo. Quem gostava de roast ganhou um presente, quem não gostava vai continuar não gostando e quem não conhecia pode até ter gostado.
E Gisele segue maior que Brady.
Entre os convidados, a melhor performance foi da comediante Nikki Glaser. Veterana de roasts e estrela do stand-up, Nikki conseguiu chamar Brady de corno, trapaceiro, destruidor de famílias e golpista de criptomoedas, mas, ao mesmo tempo, deixar claro que gostaria de… hum… fazer amor com ele.
Aliás, se você ainda não é fã dos formatos roast e stand-up, sugiro começar por Nikki. Ela tem alguns especiais na Netflix. A introdução vai ser completa!
Já os humoristas Bert Kreischer e Tom Segura montaram uma apresentação em slide. Muito didática, mas o foco era dar a entender que Tom Brady era um supremacista branco gay com tendências nazistas.

Entre os ex-atletas, quem brilhou foi Drew Bledsoe. Brady virou titular no New England Patriots só porque Bledsoe quase morreu em campo. Literalmente. Então imagine o quanto esse assunto foi explorado.
Rob Gronkowski, parceiro de Brady em quatro títulos da NFL, brilhou sendo um bêbado sérias limitações intelectuais. E dizem que ele é isso mesmo.
No fim, Giselo sobe ao púlpito e insulta todos que o insultaram antes, seguindo o ritual do programa. Ele mandou bem, com piadas redondinhas, mas que não foram escritas por ele, naturalmente.
Não foi assim um GOAT, mas foi engraçado. Eu gostei do roast do Tom Brady, mas curto o formato. Se você assistir e curtir, me agradeça depois!
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