Tenho tido cada vez menos pressa em viagens e passeios. Um dos principais critérios que levo em consideração ao definir um cronograma é a possibilidade de ficar sentado em um café na calçada, sem sentir culpa, enquanto o tempo e as pessoas passam.
O “café” pode ser outra coisa, é claro. Ele já foi uma barraca de tapioca em Maceió, um quiosque de hurricane em New Orleans, uma sorveteria em Jaraguá do Sul, um bar com Aperol Spritz na praça de Pordenone e muitos outros locais envolvendo álcool, em geral cerveja. E teve muito lugar em que eu fiquei tomando café também, naturalmente.
Em Ouro Preto, onde estive no começo de agosto, infelizmente não dá para fazer isso, por dois motivos. O primeiro é que o centro histórico da cidade é inteiramente composto por ladeiras, umas mais e outras menos íngremes. Então, não tem café com cadeira e mesa nas calçadas.
O outro é mais importante: o tempo simplesmente não passa lá há séculos. Então talvez tenha sido uma escolha errada de destino.

Um café incrível em Ouro Preto, com muito queijo mineiro
É brincadeira, claro, Ouro Preto é uma cidade incrível. E eu e minha senhora fomos até lá por um motivo muito especial, o casamento de dois amigos aqui de São Paulo. Aliás, uma dica: a noiva, Caroline Dalmolin, tem um Instagram muito elegante sobre “receitinhas & a arte de receber”, como ela mesmo define.
Falando em cafés e na arte de receber, viramos fãs do Rena Café, localizado em uma das ladeiras centrais de Ouro Preto.
Logo ao chegarmos na cidade, degustamos um café coado da casa acompanhado de pão de queijo recheado com goiabada e queijo canastra e um cheesecake com queijo local e cobertura de geleia de goiaba. Para arrematar, mais um pão de queijo, desta vez sem recheio, mas sem dúvida o melhor que já comi.

No dia seguinte, voltamos para uma tábua com queijo canastra fatiado e, sim, mais goiabada. Não resistimos e pedimos o mesmo pão de queijo recheado do dia anterior e mais um com doce de leite.
Na saída, ainda levamos um pacotinho de doce de leite da lojinha do café, depois da vendedora oferecer uma degustação dos produtos. Que lugar maravilhoso!
Acabou que esses foram nossos almoços, já que os dois dias do casamento prometiam – e entregaram – uma experiência gastronômica mineira completa.
Se você estiver em Ouro Preto, passe para tomar um cafezinho no Rena. Não tem cadeiras na calçada, mas é um ambiente muito gostoso para sentar e relaxar. E eles vendem os próprios cafés torrados online no site, fica a dica.
O tempo realmente não passa em Ouro Preto
Sobre o tempo não passar em Ouro Preto, eu me refiro naturalmente ao centro histórico da cidade. A arquitetura colonial das fachadas está não apenas preservada, como restaurada, dando um sentimento de passeio pelo passado.
Alguns casarões viraram museus, como a Casa dos Contos, que tem entrada gratuita e inclui uma passagem pela antiga senzala do local. É um importante choque de realidade para que o visitante não esqueça que toda a beleza gerada pela corrida do ouro, logo ali na rua, foi construída em cima de sangue, exploração e violência.
Outras casas mantêm a parte externa no estilo antigo, mas abrigam estabelecimentos modernos. É engraçado passar por uma porta de madeira e dar de cara com caixas eletrônicos de um banco. Parece uma viagem no tempo expressa, com juros abusivos.
Nas ladeiras e na Praça Tiradentes, onde foi pendurada a cabeça do alferes após sua morte, o casario abriga restaurantes e muitas lojas de joias feitas com pedras locais.
E nas redondezas encontramos ainda as famosas repúblicas estudantis da Universidade Federal de Ouro Preto, em um leve aceno aos ideais republicanos dos inconfidentes mineiros. “Libertas quae sera tamen”, não tem?

Aliás, na mesma praça, que é o centro nervoso bem calmo de Ouro Preto, fica o Museu da Inconfidência, que infelizmente estava fechado para reformas. Ficou para a próxima visita, mas deu para curtir a imponência da parte externa.
A poucos passos dali, em uma leve subida, fica a Igreja de Nossa Senhora do Carmo, uma das mais bonitas que já vi. Como muitas outras da cidade, é e/ou tem uma obra de Aleijadinho, o mitológico artista e arquiteto que passou sua vida por ali e deixou um legado barroco gigantesco.

História a cada esquina
Ouro Preto realmente faz sentir que você está passeando pela história do Brasil, já que o ciclo do ouro foi definidor do que somos como nação. Basta dizer que, na época do seu auge, quando ainda se chamava Vila Rica, só havia outras duas cidades propriamente ditas por aqui: Rio de Janeiro e Salvador.
Só que hoje essas duas ex-capitais do Brasil são metrópoles, enquanto Ouro Preto ficou pequenininha e tranquila. Ao contrário do século 18, quando deveria ser uma loucura.
Pensar que milhares de pessoas por aquelas ladeiras em busca de ouro, algumas por vontade própria e outras forçadas, provocou em mim um senso de humildade e pequenez. Além disso, minha ignorância apitou forte, e desde que passei por lá estou lendo e vendo vídeos sobre tudo o que aconteceu na cidade. É absolutamente fascinante.
As igrejas, com todo o ouro de seus altares, também são um retrato de uma época em que, talvez, as pessoas achavam que a riqueza e o progresso eram infinitos. Um recado para nós, do presente, e nossas infinitas possibilidades digitais e inteligências artificiais.
Assim, Ouro Preto foi uma viagem que me gerou várias viagens internas. Ela se encerrou com essa vista abaixo do Parque Nacional das Andorinhas, diretamente do local onde foi o casamento, a Vila Relicário.

Meus pensamentos se alternavam entre “será que muita gente desbravou esses morros aí em busca de pedras preciosas e morreu no processo?” e “hum, essa comida mineira do casório está uma delícia e eu preciso voltar para esse lugar maravilhoso”.
E tome cafezinho com pão de queijo!
– Leia mais:
Deixe um comentário