Eu estou há algumas semanas com o título deste post na cabeça, querendo escrever sobre o Largo da Batata. Hoje, em um intervalo de menos de cinco minutos, fiquei sabendo de duas coisas que me motivaram a botar esse texto no papel. Quer dizer, botar aqui no blog.
A primeira delas é que a Prefeitura de São Paulo havia cedido o espaço à PepsiCo por dois anos, ao valor de 1,1 milhão de reais e contrapartidas de estrutura e cuidados. Assim, passaria a se chamar Largo da Batata Ruffles.
A segunda coisa é que, horas depois da empresa anunciar a novidade, a Prefeitura voltou atrás e disse que precisa consultar uma comissão.
Depois eu volto a esse assunto, mas antes vamos um pouco de história.
Onde fica o Largo da Batata e por que ele tem esse nome
O Largo da Batata fica em Pinheiros, no alto da Faria Lima. Não tem nenhum Faria Limer de coletinho por ali, porém, já que eles se concentram na parte baixa da avenida, entre a Vila Olímpia e o Itaim Bibi.
O local tem esse nome porque, no começo do século XX, produtores agrícolas do interior vendiam suas mercadorias por ali, no Mercado dos Caipiras. Imigrantes japoneses que cultivavam batatas abriram então uma cooperativa, consolidando o nome e a tradição de ponto de passagem comercial do atual bairro de Pinheiros.
Essa tradição, aliás, está viva até hoje, com o Mercado Municipal de Pinheiros. O local é excelente e lamentavelmente pouco conhecido. Tem bancas de produtos frescos, açougue, peixaria, charcutaria, cafés e até mesmo ótimos restaurantes. Se você ainda não conhece, dá um pulo lá.
Inclusive, recentemente comi ostras e pastéis de berbigão que nada deixam a desejar a seus pares de Floripa. Até porque vieram de lá.

Nas últimas décadas, no entanto, o Largo da Batata ficou meio largado. A ponto de, quando me mudei para a região, o tal do Baixo Pinheiros, um amigo ter vaticinado: “pô, lá só tem puteiro, carroceiro e nóia, bicho”.
Nada contra essas categorias profissionais, mas a coisa melhorou bastante, como mostro a seguir. E já não era assim há alguns anos, na verdade, desde que as estações Pinheiros e Faria Lima do metrô chegaram, liberando a construção de prédios e movimentando muito as ruas. É um inclusive point gastronômico, na rua Ferreira de Araújo.
Mas o que tem de novo no Largo da Batata, afinal?
A região do Largo da Batata sempre foi um pico boêmio, mais precisamente na rua do Pitico (ou Guaicuí, oficialmente). Por ali está também o bar Cú do Padre e suas batidas, nos fundos da Igreja Nossa Senhora de Monte Serrat. Captou?
É um território da baixa gastronomia de qualidade e da cerveja de garrafa. Eu gostava muito do bolovo do bar Confessionário, também atrás da igreja, que fechou. Sou fã dos burgers do Simbalaê e degustei muito os tacos e a michelada do LosDos, que se mudou para a Vida Madalena.
Já perambulei muito por ali nesses três anos de São Paulo, mas geralmente de passagem ou com pressa. Em um desses rolês, minha senhora comentou “olha, abriu um Coffee Lab aqui”. Fomos realmente pegos de surpresa.
A famosa cafeteria chamou a nossa atenção para o fato de que quase todas as casinhas e predinhos das redondezas tinham ganhado um visual similar, com tijolinhos à vista e uma plaquinha em que se lia LAPI.
Olhamos para o lado e lá estava uma unidade do Panda Ya!, especializado em comidinhas orientais e vencedor do prêmio Melhor Bom e Barato da Veja SP. Mais um pouquinho e entramos numa pracinha interna, com lojas de roupas de design, o belo atelier botânico FLO e os pastéis de nata e bolinhos de bacalhau do Portugo. Ufa!

Note que eu foquei em comida, porque, bem, é o meu foco. Mas a proposta do LAPI (de Largo de Pinheiros), de acordo com o site oficial, é mais ampla:
Como um lugar conectado, o LAPI reinventa a maneira de viver na cidade, conectando pessoas a experiências memoráveis. (…) Com seu centro voltado para as pessoas e integração cuidadosa com o entorno urbano, o LAPI proporciona uma experiência de convivência singular, adaptada para diversas atividades diárias, desde trabalho até lazer. (…) O LAPI dialoga com pessoas ávidas por inovações e novas experiências em consumo, arte, cultura e entretenimento.
Pelo que eu entendi, a ideia é que o lugar cresça com mais opções culturais, moda e inovação. Inclusive, nesta semana, abriu por ali uma nova unidade da Livraria Cultura, com portas para a pracinha e para rua Fernão Dias.
Independentemente do que vire, estou contente que a minha área ganhou novas opções, mais movimento na rua e ainda um café de altíssimo nível. Sério, passem lá no Coffe Lab para tomar o melhor espresso de São Paulo ou degustar delícias mais doces como o Leitinho da Vovó ou o Frappé de Cappuccino. Você nunca mais vai pisar num Starbucks.
Siga o LAPI no Instagram e, quando aparecer por aqui, me chama!
Mas e a Ruffles, onde fica nessa história?
O Largo da Batata está melhorando, como se vê, mas ainda tem um ponto fraco: o Largo da Batata em si. A praça é pouco iluminada e passa um sentimento de insegurança, mesmo com o movimento dos bares em volta. O policiamento, por exemplo, fica só na saída do metrô Faria Lima.
O dinheiro da PepsiCo supostamente seria investido diretamente em melhorias e manutenção do Largo da Batata (Ruffles). Parece que, de fato, o contrato foi meio mandrake e precisa ser revisto, mas tomara que tudo se acerte.
O ideal seria que a Prefeitura de São Paulo desse conta de manter o Largo da Batata bem cuidado, é óbvio. Ela tem orçamento de sobra para isso.
Mas dá uma certa preguiça da turma que é contra investimento privado por princípio. Estão lá os mesmos nomes de sempre como fonte nas matérias, propondo só que se deixe tudo como está. Bancos em forma de batata frita não resolveriam tudo, mas quem sabe aumentariam a circulação de pessoas.
E já tinha até evento marcado para esse fim de semana. Talvez fosse legal como os festivais gastronômicos do Cola em Sampa que rolam por ali. Vai saber.
Quanto mais gente, olhos e luz na rua, melhor para todo mundo. E no Baixo Pinheiros é todo mundo mesmo, tem opção para tudo que é gosto. Bora tomar uma gelada? Ou um Leitinho da Vovó?
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