O meu amigo Nathan Ams Argenta é um ótimo contador de histórias. Quando entrou no Jornalismo da UFSC, em 2009, eu realmente acreditei na lenda que surgiu nos corredores — e que ele dava corda: tratava-se de um gênio prodígio de 15 anos. Em minha defesa, ele aparentava mesmo ter essa idade.
Pior que eu acho que nem foi ele que inventou essa história, só pegou no ar e decidiu se divertir um pouco com ela por algum tempo.
E em algumas das vezes em que li os contos de seu livro, “A noite em que ganhei um aforismo”, tive a impressão de que foi assim que foram escritos. Os cenários e os personagens tão distintos e aparentemente distantes parecem ter surgido de uma inspiração etérea, e ele decidiu puxá-los para brincar sob a forma de palavras.
Em outras vezes que li os contos não tive essa impressão, porque lembrava que o Nathan me contou que levou anos para escrevê-los e se dar por satisfeito. Dava para notar que foi tudo exaustivamente trabalhado.
Dessa vez, acho que ele estava falando a verdade. Mas, pensando bem, uma impressão não elimina a outra.

As diferentes formas que li “A noite em que ganhei um aforismo”
Como eu disse acima, li algumas vezes os sete contos de “A noite em que ganhei um aforismo”. Li um de cada vez, li todos em seguida, li voltando ao começo, li antes de dormir, li na sacada na frente do mar, li em um hotel, enfim, deu para aproveitar de diferentes formas o livrinho de 100 páginas.
Fui e voltei aos contos porque eles pedem releituras, já que cada um tem um estilo. E porque meu déficit de atenção está cada vez mais incapacitante, mesmo quando é algo que eu quero ler e estou gostando. Acho que é coisa da idade ou do vício em rede social.
A cada (re)leitura, eu descobria algum detalhe que tinha deixado passar e adicionava uma nova camada ao conto. E sempre ficava pensando, como também disse acima, de onde surgiam aquelas pessoas e imagens transformadas em palavras.
O segundo conto, “A leitora”, foi o que mais me marcou. Nathan narra o conto sob o olhar de uma menina que é contratada por uma senhora do bairro para ler os jornais e a bíblia para ela, que tem problemas de visão. Nesse meio tempo, cria dois personagens completos em poucas linhas: o pedreiro que arruma o trabalho e um menino que é seu ajudante.
E são personagens completos no sentido de que consegui visualizá-los e ler o que diziam com vozes muito claras na minha cabeça. Em uma entrevista, o Nathan disse que gosta de deixar que o leitor complete as histórias, caso sinta necessidade.
De fato, ele nos coloca nas histórias sem grandes explicações, narrando momentos muito específicos sem se preocupar muito com o antes e o depois. Dessa forma, entrega contos de verdade: curtos, diretos e que se bastam por si próprios.
Outro que me marcou foi “Teoria incipiente do sonho”. Em uma das vezes que li, interpretei como uma digressão otimista sobre a vida, a existência e o que fazemos delas. Em outra, após perder o meu pai, como um chamado a botar os nossos sonhos em prática antes de precisarmos encarar a finitude.
Acho que o Nathan vai gostar de saber que eu também resolvi deixar seus contos em aberto.

A alegria de ver o livro do Nathan publicado
O Nathan Ams Argenta tinha uma coluna no Laranjas, entre 2012 e 2013, e escrevia os melhores textos do site. Enquanto eu e os outros redatores bolávamos piadinhas e sátiras de matérias jornalísticas, o tal do jovem prodígio já publicava contos como um velho escritor, como vi recentemente alguém definindo seu estilo.
Eu confesso que não lembro como surgiu essa coluna, mas não esqueço que toda vez ficava embasbacado com as coisas que ele mandava. Tipo agora, com esse sentimento de não entender de onde ele tira as coisas que escreve, mas naquela época de uma forma bem mais crua.
Assim, com mais 10 anos de literatura — lendo e escrevendo — nas costas, o Nathan refinou seu texto e publicou seu tão sonhado livro. Fiquei bem feliz quando soube que isso finalmente aconteceria, pois nos últimos anos nos reaproximamos e conversávamos muito sobre esse assunto.
Que seja o primeiro de muitos! E recomendo muito que você compre “A noite em que ganhei um aforismo” no site da Editora Mondru, clicando na imagem da capa abaixo.

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