O futebol é o único esporte coletivo popular em que há apenas um tipo de pontuação dentro de uma partida: o gol.
O basquete tem só a cesta, ok, mas ela pode valer 1, 2 ou 3 pontos. Já o vôlei premia quem põe a bola no chão e bloqueia o adversário, e também pune quem joga bola na rede, quem pisa na quadra oposta, quem corta por fora da antena e muito mais. O futebol americano tem touchdown, ponto extra, field goal e outras coisas que eu nem tento entender. E o beisebol, então?
Além disso, o gol no futebol é raro, acontece em média no máximo 2 ou 3 vezes por partida, diferentemente do handebol. E às vezes nem acontece. Por isso, celebramos muito quando a bola estufa a rede do adversário e nos desesperamos quando o goleiro do nosso time deixa um chute passar.
O gol é o momento máximo do esporte mais importante e amado do planeta Terra. É uma catarse que envolve milhões de pessoas na frente da televisão.
E aí o principal narrador da maior emissora de TV do Brasil, o país que é o maioral do futebol, resolve que vai gritar guol quando sai um gol.
Guol.
GUOL. GUUUUUUOOOOOOOOOOOL.

Luís Roberto, o narrador que grita GUOL
Luís Roberto é o nome da emoção. De raiva, no caso, toda vez que eu ouço o grito de GUOL. E o duro é que ele parece ser um cara gente boa. Tem muitos anos de jornalismo esportivo, está na Globo desde 1998 e é o narrador principal da casa desde a saída de Galvão Bueno, após a Copa do Mundo de 2022.
Antigamente, acho que até uns 2 anos atrás, gritava GOL como qualquer pessoa normal. Ninguém sabe o que houve. Não há explicação para essa tragédia.
Ele está narrando atualmente os jogos dos times brasileiros no Mundial de Clubes, sendo a voz das campanhas históricas de Botafogo, Flamengo, Fluminense e Palmeiras. Com o sucesso do torneio, o grito de GUOL voltou à pauta e as reclamações nas redes sociais cresceram.
E vale lembrar que também será a principal voz da Copa do Mundo de 2026. Imagina se o sonhado hexa vem com um grito de GUOL?
Guol, bicho. Não dá.
>> Leia também: NANANANANA: 5 ideias de música-tema eurodance para a Copa do Mundo de 2026
Alguém da Globo precisa fazer alguma coisa
Este post está sendo escrito e publicado em um dia sem jogos do Mundial de Clubes, então quem sabe o problema esteja resolvido quando as oitavas de final começarem. Mas eu duvido.
Minha expectativa é que alguém na direção da Rede Globo dê um toque no simpático Luís Roberto para que pare com essa bobagem. Pode até manter os outros bordões, como “fé no pé”, “sabe de quem” e “o nome da emoção”, que usa também nos pré e pós GUOL.
Mas na hora do gol em si tem que ser GOL, não pode ser GUOL.
Bordões são, afinal, marcas registradas dos narradores esportivos. Eu mesmo escrevi neste blog uma eulogia a Sílvio Luiz, outro narrador que não gritava gol. Ele, porém, com seu ÉÉÉÉÉÉ DO [inserir clube ou seleção], fugia completamente do termo, respeitando a sacralidade de tudo o que essa palavra representa.
Luís Roberto tem todo o direito de querer deixar uma marca própria em suas transmissões, é claro. Mas GUOL é um equívoco enorme.
Forjado nas trincheiras do Campeonato Carioca, ele adotou essa esquisitice justamente depois de alçado à posição de narrador número 1 da Globo. Não é à toa que foi o escolhido para substituir o lendário Galvão Bueno: os méritos estavam lá com transmissões emocionantes.
Nem que invoquem o espírito de Armando Nogueira, eterno chefe e guru de Jornalismo e Esportes da emissora carioca, para falar com o Luís Roberto, mas alguém tem que fazer alguma coisa para evitar que o hexa venha com um grito de GUOL.
Compare o Luís Roberto do Velho Testamento com o do Novo Testamento:
Antiga narração do Luis Roberto x Nova narração do Luis Roberto
— Mengão Rage Comics (@mengaorcomics) February 25, 2025
esse guol é mais feio que bater na mãe pic.twitter.com/f4utuJC174
Então por que você não troca de canal?
Você tem todo o direito de achar que eu estou exagerando e que estou histérico com algo irrelevante. Ou que eu poderia simplesmente trocar de canal, talvez assistir na CazéTV, como se eu fosse um jovem.
Essas novas emissoras de streaming são divertidas, originais, mas eu não tenho mais idade e saco para aguentar uns malucos gritando e falando palavrões, tratando qualquer Tottenham x Atalanta como um jogo histórico. Eles até gritam GOL, mas gritam demais.
A verdade é que o futebol é um abraço à nostalgia de tempos que não voltam, ainda mais quando ainda se é um entusiasta da Seleção Brasileira. Bradamos que “no meu tempo que era bom”, mas sabemos que vivíamos às turras com as transmissões do Galvão Bueno e não perdoávamos as confusões mentais do saudoso Luciano do Valle pouco antes do seu fim.
Como eu já disse, idolatrávamos Silvio Luiz, um narrador que não gritava gol. Entenda: o torcedor de futebol é sobretudo um apaixonado incoerente, que não é amado de volta por seu objeto de afeição, seja ele um time, um jogador ou um período específico de glórias. Nada aqui é racional.
O tempo passa, e tudo que a gente quer é ver um joguinho e tomar uma cerveja com uma narração com emoção na medida certa. Não precisa nem ser imparcial ou ter grandes análises táticas, às vezes só precisamos de bola na rede.
Por isso, não dá para prescindir do grito primal do futebol. Não dá pra ser GUOL. Algüém precisa fazer alguma cuoisa a respeito do grito de GUOL do Luís Roberto.
– Leia também:
Deixe um comentário