A Copa do Mundo de Clubes da FIFA é um sucesso. Os times brasileiros fazem (ou fizeram) boas campanhas, chegando mais longe do que muita gente previa. Um narrador inventou um jeito tosco de gritar G(U)OL e ninguém fez nada sobre isso. E, assim, o novo torneio não sai da cabeça dos torcedores e secadores de plantão.
O que também não sai da cabeça de quem assiste é a musiquinha que toca por alguns segundos na vinheta de abertura e intervalos das transmissões. Você está lá de boas aguardando o jogo e, do nada, lá vem ela:
🎵 NANANANANANANANA NANANA NANANA 🎵
Sim, o número de NAs está certo, eu contei. É um trecho da canção “Freed from desire”, da cantora italiana Gala. Um verdadeiro clássico, retirado do disco Come Into My Life, de 1997, que ainda tinha o mega hit… “Come Into My Life”, é claro.
Enfim, antes de continuar a leitura, curta a música original da qual a FIFA usou apenas duas letras repetidamente:
Como o NANANANA de Freed from Desire da Gala virou hino do futebol
Agora que você viu o vídeo e vai ficar com o NANANA na cabeça por dias, pode estar se perguntando: “o que essa música que eu escutava no esquenta pro Café Cancún tem a ver com futebol?” Realmente é meio nada a ver.
Pode estar pensando também que “o Volpato acha que eu sou velho(a) que nem ele, pelamordedeus, eu era criança quando tocava essa música”. É outro ponto válido.
Bom, a raiz disso aí está na Euro 2016. O torneio de seleções europeias ficou marcado por uma adaptação que as torcidas faziam nas arquibancadas. Torcedores de todos os países adotaram e cantavam enlouquecidamente a versão “Will Grigg is on fire”, que obviamente mantinha intacta o NANANANA. Ela foi criada por Sean Kennedy, um torcedor do clube inglês Wigan, em homenagem ao craque do time, o centroavante norte-irlandês Will Grigg.
Sean fez um upload para o YouTube com a sua criação, iniciando um dos maiores efeitos-borboleta da história do futebol. É maravilhoso e nos lembra de tempos mais simples da internet, quando qualquer idiota podia postar um vídeo ou criar um blog para publicar suas opiniões e… bem, deixa pra lá, apenas assista:
Sim, é por causa desse cara que, 9 anos depois, a FIFA escolheu “Freed from Desire” para ser a música-tema de sua primeira Copa do Mundo de Clubes. Por causa daquele inglês bolachudo do vídeo, é isso mesmo.
A coisa fica ainda mais engraçada quando você descobre que, embora convocado pela potente Irlanda do Norte para a Euro, Will Grigg não entrou em campo no torneio.
Grandes músicas-tema de torneios de futebol do passado
O pior é que a Euro 2016 até tinha uma música oficial interessante. “This One’s For You”, de David Guetta e Zara Larsson, era a cara da França: um eurodance (falaremos mais sobre esse gênero adiante) com uma pegada brega-festiva, mas ao mesmo tempo com uma certa elegância irônica.
A música até fez certo sucesso, e deve ter tocado bastante nas boates pega-turista da orla de Nice ou do Porto Olímpico de Barcelona. Veja se você se lembra:
Mas as grandes canções oficiais de futebol vieram da Copa do Mundo. Uma delas nem era oficial, mas mora até hoje em nossos corações. A seguir, relembre esses três grandes hinos do maior evento esportivo do planeta, que tinham coisas parecidas com o NANANA em suas letras.
2010 na África do Sul – “Waka Waka”, da Shakira
A FIFA escolheu uma cantora sul-americana para criar e interpretar a música da primeira Copa do Mundo na África, mas fez nascer um clássico. Até hoje “Waka Waka” é sinônimo de festa no futebol, voltando a tocar com frequência a cada quatro anos, tanto que está entre os 40 videoclipes musicais mais vistos da história do YouTube.
O som e a coreografia têm muita influência africana, como não poderia deixar de ser. Quem consegue segurar o quadril ao ouvir TSAMINA MINA Ê Ê, WAKA WAKA Ê Ê é um verdadeiro herói. E Shakira acabou ganhando mais um super hit para chamar de seu.
1998 na França – “La Copa de la Vida”, do Ricky Martin
Olha aí mais um latino cantando o tema de uma Copa em outro continente. Ricky Martin era um dos maiores astros pop do mundo e foi chamado para cantar “La Copa de la Vida”, na última edição do torneio no século 20 e nos maravilhosos anos 90 (falaremos mais sobre isso adiante também).
Como falei, o tema de 1998 tinha umas monossílabas repetidas no refrão, para facilitar a popularização: GOL GOL GOL ALLEZ ALLEZ ALLEZ. E eu acho que o título da música ainda remetia ao hit maior do cantor porto-riquenho, “Livin’ La Vida Loca”.
Se não fosse a convulsão do Ronaldo e a traulitada que tomamos na final, talvez a gente tivesse uma melhor lembrança desse som:
2014 no Brasil – “OOOEEEAAA”, de algum gênio
Essa na verdade não era a música tema da Copa do Mundo do Brasil, a maior de todos os tempos. Assim como NANANANA, era a vinheta de abertura das transmissões e intervalos.
Virou um símbolo de um mês muito louco no Brasil, e ainda vinha acompanhada de uma bela animação mostrando cidades e estádios do nosso país. Aquele OOOEEEAAA nos transportava para o centro do campo no Maracanã, na Fonte Nova ou, vá lá, no Mineirão.
Sim, porque a gente acaba lembrando do 7 a 1 também, não tem jeito.
Mas chega de nostalgia futebolística. Você clicou para ler este post pelo título, então vamos para a nostalgia musical.
Sugestões de música-tema para a Copa do Mundo de 2026 na vibe eurodance
“Freed from desire” é uma legítima representante da eurodance, gênero que dominava as rádios nos anos 90. Enquanto os americanos se deprimiam e se drogavam ao som de grunge, os europeus se drogavam com ecstasy para curtir as pistas de dança.
Os britânicos, que nunca se consideraram europeus, curtiam umas coisas mais techno, mais indie dance. Enquanto isso, franceses, italianos, alemães, escandinavos e toda a galera do leste europeu mergulhavam no eurodance, com uma pegada mais pop, cheia de tecladinhas e produzida em escala.
Os anos 90 foram o ápice do mundo. A Guerra Fria havia chegado ao fim, a Europa estava unida em torno da causa da liberdade e o clima generalizado de celebração levava as pessoas a quererem apenas dançar e se divertir.
No Brasil, a inflação simplesmente acabava, um dólar valia um real, a Seleção Brasileira conquistava o tetra, o Grêmio ganhava a Libertadores e o Brasileiro, o grupo É o Tchan surgia e a televisão vivia o auge com a disputa entre Faustão e Gugu pela liderança de audiência aos domingos. Éramos invencíveis!
Além disso, a internet estava nascendo e, com ela, o fluxo livre de informação, cultura e opiniões, com qualquer um, literalmente qualquer um, podendo se expressar livremente. O que poderia dar errado, não é mesmo?
Bom, melhor não entrar nessa seara. Vamos às músicas daquela época que a FIFA poderia usar como tema para a próxima Copa do Mundo, em 2026.
DJ Bobo – “Everybody”
DJ Bobo já te traz alegria só pelo nome. Suas canções remetem à praia, alegria, caipirinha, festa em um barco suspeito, camarão frito e uma intoxicação alimentar formadora de caráter. “Everybody” e “There’s a party” são belíssimas, mas selecionei pelo potencial de conexão da letra com o futebol.
🎵 Everybody move your feet / To the rhythm of this beat / Everybody sing this song / All the people having fun 🎵
Playahitty – “The Summer Is Magic”
A Copa do Mundo de 2026 será no verão da América do Norte, então nada mais apropriado que um vozeirão gritando THE SUMMER IS MAGIC na abertura das transmissões dos jogos. E ainda tem Ô Ô Ô para manter o padrão de monossílabas.
Pode ser que as transmissões sejam interpoladas por imagens de guerra civil nas ruas das cidades-sede nos Estados Unidos? Pode, mas ficaria uma ironia sofisticada.
Haddaway – “What Is Love”
Imagine um jogo de futebol sendo aberto pelo questionamento “What is love? Baby don’t hurt me!” Todo torcedor pararia para avaliar suas escolhas nos últimos anos, parando para refletir se todo o amor dedicado ao seu time e seleção foi correspondido.
Não foi, certamente, e isso levantaria conflitos existenciais. Porém, logo a música descamba para aquele WOWOWOWOOWOOW e tudo que importa é lutar pelo gol.
Eiffel – “Blue (Da Ba Dee)”
Megahit já do final dos anos 90, “Blue” tem enorme potencial de onomatopéia monossilábica para uma vinheta de Copa do Mundo. Se você não está ligando o nome à pessoa, ela serviu de base para a memorável versão brasileira “Um Tapinha Não Dói”, do MC Naldinho.
O orgulho brasileiro seria retomado com a torcida entoando um hino que verdadeiramente nos representa, gritando UM TAPINHA NÃO DÓI por cima de qualquer coisa que aqueles malas do Movimento Verde e Amarelo tenham inventado.
Latino – “Festa no Apê”
Já que estamos falando de adaptações brasileiras, vou fazer uma licença poética e pedir esse clássico dos anos 2000, na minha opinião umas das melhores canções pop deste século. Se você discorda, deixe seus argumentos nos comentários e vamos debater.
De qualquer forma, é eurodance, pois a versão original foi gravada por um grupo da Moldávia e lançada na Romênia.
“Festa no Apê” ainda simboliza a melhor forma de ver um jogo na televisão: com a sua galera, fazendo um churrasco, tomando cerveja de qualidade duvidosa e tecendo comentários exageradamente agressivos a respeito dessa geração horrorosa do futebol brasileiro.
O bundalelê fica por sua conta, mas também ficaria legal na vinheta.
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