Sou fã de discos ao vivo. Mais fã ainda de DVDs com registros de shows. Hoje muitas músicas são lançadas diretamente em versões (supostamente) ao vivo, mas antigamente a gente tinha que aguardar ansiosamente por um lançamento oficial com as canções gravadas em frente a uma plateia.
Era relativamente raro, inclusive, por isso recorríamos a bootlegs, que eram gravações não oficiais das bandas e cantores. Eu volta e meia comprava CDs importados só porque eram ao vivo, e depois descobria que eram piratex.
Passei a semana passada em Floripa e, como contei no post sobre Mr. Brightside, mais uma vez aproveitei para pegar algo da minha gloriosa coleção de CDs que ficou na casa da minha mãe.
E para ouvir no carro, como se eu fosse um neandertal.
O escolhido foi aquele que considero ser o melhor disco ao vivo do rock brasileiro: Vamo Batê Lata, dos Paralamas do Sucesso, lançado em 1995.

Batendo lata com os Paralamas do Sucesso
Os Paralamas do Sucesso vinham de uma fase de experimentações sonoras com ritmos regionais brasileiros e da América do Sul. A turnê registrada em Vamo Batê Lata é do disco Severino, com forte influência nordestina.
O vocalista Herbert Vianna estava, ainda, meio obcecado com Carlinhos Brown, na época apenas líder da Timbalada e não uma figura onipresente na Globo. O músico baiano é inclusive citado na faixa-título.
Além disso, o CD ao vivo vinha com outro CD bônus com quatro músicas inéditas gravadas em estúdio, em que está um dos maiores hits do trio: “Uma Brasileira”. Aquela com o Djavan, lembra? Eu sei que lembra.
Esse sucesso é marcado pelo destaque na bateria e na percussão, assim como todo o disco Vamo Batê Lata. Ele já abre com uma versão bem roqueira de “A Novidade”, composta por Gilberto Gil, mas que já fazia parte do repertório dos Paralamas.
De cara, já somos apresentados à explosiva performance vocal de Herbert, que parece cuspir várias vezes durante o show.
Outras pancadas defendidas com afinco pelo vocalista e seus companheiros Bi Ribeiro e João Barone são “Alagados”, “O Beco”, “Trac trac” e, a maior de todas, “Meu Erro”. Esta última vem em um medley com “Soul Sacrifice”, em que o Carlos Santana baixa na guitarra de Herbert.
Vale registrar que o trio conta com o apoio de parceiros históricos como Eduardo Lyra na percussão e João Fera nos teclados, além de um naipe de metais, para fazer grandes versões ao vivo dessas enormes canções.
Os Paralamas também amam
Além de pancadaria rítmica, Vamo Batê Lata ainda traz belíssimas versões de músicas mais voltadas para as dores do amor dos Paralamas do Sucesso.
A minha preferida é “Lanterna dos Afogados”. A versão conta com uma entrada de bateria e guitarra dedilhada para criar um clima na introdução, antes do tecladinho clássico. No meio, o lamento do trompete conecta com o solo de guitarra zeppeliano de Herbert Vianna, inspiradíssima. E que letra, amigos!
Outro grande momento do disco é “Você / Gostava Tanto de Você”, que une as duas grandes canções de Tim Mais em um único arranjo. Ficou ótimo e ainda tem a participação do público nos refrões. É muito bom ver uma interação de verdade em uma canção ao vivo, e não essas de hoje que são falseadas em estúdio, né não?
Aliás, logo na abertura da música acontece um momento muito engraçado, que só um show de verdade pode proporcionar. A banda faz uma introdução, com o naipe de metais criando o clima, até que Herbert canta “Você…” E antes mesmo que ele completasse com “…é algo assim”, um grito agudíssimo e muito forte de “AAAAAAAAAAAAH” vem da plateia, muito espontâneo.
Fica a impressão de que uma fã de Tim Mais foi pega de surpresa e teve um daqueles sentimentos de “AAAAAAH MINHA MÚSICAAAAAA” imortalizado no disco ao vivo dos Paralamas.
O grito está aos 25 segundos do vídeo abaixo, mas veja (e ouça) ele todo, é claro!
Vamo Batê Lata em DVD
Muitos anos depois de comprar o CD, eu encontrei o DVD de Vamo Batê Lata numa daquelas queimas de estoque das Lojas Americanas.
A versão em vídeo do show tem algumas músicas extras, como “Uma Brasileira” ao vivo e uma cover de “Whole Lotta Lova”, do Led Zeppelin. Elas por si só não justificam o investimento, mas o registro da performance, gravada no fim de 1994 em São Paulo, sim.
Os Paralamas do Sucesso estavam passando por uma virada estética em suas produções. Nos anos seguintes, dominariam as paradas da MTV com seus videoclipes criativos e muito bem produzidos, como “Loirinha Bombril” e “Ela disse adeus”.
Então, Vamo Batê Lata já traz esse apuro visual, complementando a sonoridade reforçada na batida com louvor. Infelizmente não tem muita coisa no YouTube desse show, então o DVD é o caminho.
Já o áudio tá aí, completinho no Spotify:
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