Um grupo de WhatsApp, um jogo de basquete e um joelho de velho

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Ficar velho é uma merda, mas a outra opção é pior. Assim, resta-me apenas lamentar os efeitos nefastos da passagem dos anos sobre o meu corpo, ao mesmo tempo em que tenho que ser grato pelo privilégio de poder sofrê-los.

É essa a minha reflexão após machucar mais uma vez meu joelho direito, por ter resolvido, do alto dos meus 41 anos, jogar basquete com meus vizinhos.

Este post também é um manifesto para que você, que está na mesma faixa etária desesperadora que eu, não pratique esportes coletivos de impacto. Eu estava há oito anos seguindo essa regra, e estava tudo bem.

É ainda um desabafo sobre a dificuldade de se fazer amigos depois de adulto. Se você se identifica, vem comigo. Se não, parabéns, sorte sua.

michael jordan joelho
Momento em que eu decidi que era uma boa ideia aceitar o convite para o basquete

Por que eu parei de jogar futebol

Minha última partida de futebol foi, como eu disse, há oito anos. Joguei bola durante toda a infância, adolescência e regularmente com as turmas das minhas duas faculdades. Isso foi até os 30 anos, mais ou menos.

Nesse tempo, as lesões no tornozelo eram frequentes. Já distendi e rompi aqueles ligamentos fininhos externos nos dois pés. Em uma final da ESAG Cup, fardei pra ficar no banco de reservas com o ligamento do tornozelo esquerdo rompido — tudo bem, era o meu pé fraco.

O problema é que, com 5 minutos de jogo, nosso atacante quebrou a perna e eu tive que entrar em campo. Uma atitude normal, equilibrada, esperada de um sujeito responsável de 21 anos. Doeu muito, mas o lendário Clube de Regatas Supermercados Luciano precisava de mim.

Perdemos, mas mostrei todo o meu profissionalismo de atleta amador.

E o bom de ter 21 anos é que você também se cura rápido de lesões, então fiquei bom logo para poder voltar a jogar. Esse era o meu nível de demência.

UFSC: a minha melhor fase no futebol

A época de Jornalismo na UFSC foi a minha melhor fase no futebol. Eu estava bem mais magro que na ESAG, então me lesionei menos. E junto aos meus companheiros do Laranjas FC, da turma 2007.2, conquistei duas Robgols, consagrando-me artilheiro em uma delas.

Eu havia virado corredor de rua e marombeiro principiante, então é claro que era uma excelente boa ideia colocar toda a evolução física a perder em uma dividida no futebol.

Foi o que aconteceu uma vez em que sofri uma falta e caí de ombro diretamente no chão, sofrendo uma luxação na clavícula um mês antes de correr o Revezamento Volta à Ilha, em Floripa. Fiz os meus 20 quilômetros da prova, incluindo dunas, sem treinar no mês anterior, o que resultou em lesões musculares graves nas pernas. Nunca mais voltei à forma daqueles dias.

Faz parte da vida de um craque, né?

E, mesmo assim, segui jogando bola semanalmente no campo dos servidores da UFSC, atrás do Bar Volantes, comandado pelo querido Silvinho. Se você está em Floripa, aliás, não deixe de experimentar o pão com almôndega dessa lenda da baixa gastronomia, em sua nova casa, na subida do Morro da Cruz.

O campo dos servidores ainda testemunhou o lendário jogo em que prometi 5 gols para a minha atual esposa, então apenas amiga — e marquei nada menos que 7. Ela diz que não, mas sei que foi ali que a conquistei.

E assim foi até lá pelos 30 anos, quando pendurei as chuteiras pela primeira vez após algumas partidas lamentáveis no campo do Sintufsc, em Floripa. Encarei lendas do ludopédio jornalístico local, como Edson Rosa, Mateus Boing e o saudoso Frank Maia.

Não aguentei as dores nas costas.

A lesão no joelho que me forçou a pendurar as chuteiras

Os 30 anos eram para mim, de fato, uma nota de corte. Eu atingi um nível espantoso de maturidade e entendi que era o suficiente. Tinha que me dar por satisfeito com meus gols, títulos e por não ter infartado.

Só que em 2016, aos 33 anos, eu pedi demissão do jornal Notícias do Dia e quis entrar no futebol do pessoal do grupo RBS. Fazer networking, sabe como é.

Minha senhora, então minha noiva, avisou que ia dar merda. Eu devia tê-la levado a sério no tema futebol, como faço em todos os outros.

Na primeira partida, minha aliança saiu voando em uma cobrança de lateral. Inexplicavelmente, ela só foi encontrada 30 minutos depois na torneira do campo grande do lendário P&K, que ficava para trás de onde eu lancei a bola.

Entrei em pânico, parei o jogo, quase chorei, enfim, foi um papelão. Para completar, fui eleito o pior da partida pelos meus novos colegas.

Voltei ao campo 15 dias depois, decidido a recuperar minha imagem. Em mais um lance completamente sem sentido, decidi chutar a gol do meio-campo com a perna esquerda. A perna ruim, no caso.

Chutei de forma ridícula, sem força alguma e, no mesmo momento, senti um estalo no joelho direito. Dias depois, o diagnóstico: menisco rompido.

Era, agora sim oficialmente, o fim do sonho de ser um grande craque do futebol brasileiro. Triste demais.

Ok, mas e o que houve no basquete?

Desde o fim da carreira nos gramados, meus únicos esportes foram caminhas e corridas de rua, além de academia e musculação. Joguei muito beach tennis também, a partir de 2021. Nada que envolvesse riscos, portanto.

E como então eu fui parar em um potencialmente letal jogo de basquete no meu condomínio?

O motivo é muito parecido com o da situação que me levou ao rompimento do menisco: conhecer pessoas. É, amigos, não é fácil fazer novas amizades depois de adulto, ainda mais quando você se muda de cidade.

Na academia do prédio, ouvi falar do grupo de WhatsApp de basquete e vôlei dos vizinhos. Imediatamente eu pensei “vou entrar nesse negócio, mas é certeza que eu vou me machucar”.

Por outro lado, ironicamente, minha senhora, atualmente minha esposa, me estimulou a jogar. Olhas as voltas que a vida dá.

Minha atuação no basquete foi lamentável. Eram 3 pra cada lado, meia quadra, quem fizesse 21 ganhava. Na primeira partida, não fiz nenhum ponto. Na segunda, comecei a fazer cestas, mas também caí sozinho e bati o joelho.

Eu devia ter parado? Devia. E sabia que ia dar merda.

Mas já tinha me comprometido com a turma, e o que mais importa nessa hora além do compromisso de um verdadeiro profissional do esporte amador? Joguei mais duas partidas, em um total de uma hora e meia. Evoluí bastante e fiquei até animado para o resto da temporada.

The morning after para o meu joelho

Infelizmente, já na manhã seguinte, o cenário era devastador: dores nas solas dos pés, lombar travada e o joelho direito do tamanho de uma bola de basquete. E a frustração com o sentimento de velhice, amigos?

Era o mesmo joelho que tem o menisco rompido, caso você não se lembre. Ah, eu não falei que nunca operei? Então, nunca operei. E também não falei que já fiz aplicação de gel hialurônico nessa articulação, porque as minhas cartilagens estão quase que completamente desgastadas? Pois é, tem isso também.

Assim, estou indo para o quinto dia de anti-inflamatório com receita controlada, combinado com quatro aplicações de gelo durante o dia. Já estou conseguindo até dobrar o joelho, olha só que coisa boa.

O pior é que a médica da consulta online ouviu minhas lamúrias e sentenciou: “Bruno, você é muito novo para essa conversinha de parar com esses esportes”.

Vou ser obrigado a discordar da sua avaliação, doutora. E também a arrumar alguma outra forma de fazer amigos.

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Comentários

Uma resposta para “Um grupo de WhatsApp, um jogo de basquete e um joelho de velho”

  1. Avatar de Andre
    Andre

    Se é difícil fazer amigos, depois de ~velho~ adulto, especialmente depois de mudar de cidade, imagina depois de mudar de país! Pois é.
    Minha dica, que deu certo para mim e envolve menos riscos, é escolher um bar que você goste, e passar a frequentar todos os finais de semana! Se você se esforçar bastante, consegue conhecer toda a turma de frequentadores assíduos, que muito provavelmente não vão te chamar para uma partida de basquete, mas sim para shows, festas e até churrascos (mesmo aqui em terras Lusas!). É tiro certo, vai por mim!

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